Copo meio cheio ou meio vazio?

O mundo não está a agir como se estivesse a enfrentar uma crise de escassez de água, afirma Kim Jensen, Vice-presidente do Grupo Grundfos.

Kim Jensen reconhece que muitas regiões do mundo estão a enfrentar o problema da escassez de água. Contudo, não resiste à tentação de criticar o consenso amplamente aceite de que a escassez de água deu origem a grandes alterações nos nossos hábitos de consumo de água nos últimos anos. “Se o mundo está mesmo no meio de uma crise de água, deveríamos encarar as subidas de preços como as de outros recursos escassos. Mas isto não acontece.

Em vez disso, a água é gratuita para todos os que consigam controlá-la. Desta forma, com base nestas informações tenho de admitir que a escassez de água é uma realidade com sérias consequências”.

Obter o preço justo

Dado que a água é um recurso escasso, esta situação deveria implicar uma subida dos preços da mesma a nível global. O mesmo acontece com outros recursos escassos como o petróleo e o ouro. Contudo, isto não se aplica ao caso da água. Em muitos países em desenvolvimento, é possível extrair água da rede sem sequer ter de pagar. “É um paradoxo que não compreendo: os governos afirmam não ter água suficiente para os respectivos cidadãos, mas não cobram a água que disponibilizam”, diz Kim Jensen. “Parece existir uma relação inversa entre a disponibilidade de água e o respectivo preço. Quanto menos água existe numa região, mais barata é para o consumidor”.

Em geral, se os consumidores não estão dispostos a pagar mais pela água, então muitas regiões do mundo deveriam considerar a alteração dos respectivos comportamentos e hábitos de consumo de água ou encarar a escassez da mesma. Se os consumidores não estão dispostos a alterar voluntariamente os respectivos hábitos, as subidas dos preços são frequentemente utilizadas como uma forma de coacção.

Consumo responsável

Outro paradoxo é o facto de algumas das regiões mais secas do mundo encontrarem-se entre os maiores consumidores de água. “Se um país ou região tiver apenas disponíveis águas subterrâneas ou águas de superfície com níveis reduzidos, deve assumir-se que estes são vítimas de extrema escassez de água.

Contudo, alguns dos países do Médio Oriente consomem bastante mais água do que qualquer outra parte do mundo. Apesar de a região ser seca, têm toda a água de que necessitam”, explica Kim Jensen. Se existisse efectivamente uma vontade de agir relativamente à questão da escassez de água, teríamos de abordar o problema do consumo de água em oposição aos recursos hídricos locais.

Rega irresponsável

“Setenta por cento da água que consumimos é utilizada para rega. Por isso, se a água é efectivamente um recurso escasso, por que não limitamos a quantidade de água para rega? Como podemos esperar que os residentes alterem e reduzam os hábitos de consumo de água, se os agricultores utilizam enormes quantidades de água potável para as respectivas culturas? Esta situação é justa?”, pergunta Kim Jensen, salientando a necessidade de ser criada nova legislação para a rega, de forma a chegar à raiz do problema da escassez.

Energia = água

Kim Jensen explica que vamos ter sempre a mesma quantidade líquida de água disponível no planeta. A dificuldade assenta em transportar a mesma para os locais onde não existe água disponível. Existem várias formas de tratar ou transportar a água, mas todas requerem energia. De certa forma, o acesso à água é uma questão de acesso à electricidade. Kim Jensen dá-nos alguns exemplos das medidas tomadas por vários países para manter o acesso à água:

• Na China, metade do país tem abundância de água e a outra metade tem pouca água disponível. Consequentemente, a água tem de ser transportada por longas distâncias, o que se traduz num enorme consumo de energia.

• Espanha também já enfrentou sérias pressões sobre os recursos hídricos. Consequentemente, estão a construir várias estações de dessalinização de grandes dimensões na costa, onde têm acesso a toda a água de que necessitam.

• Muitos países do Médio Oriente têm pouca, ou não têm, água natural disponível. Contudo, como têm acesso à energia e há alguns anos decidiram investir nas estações de tratamento e dessalinização de águas, dispõem actualmente de toda a água necessária.

Estas soluções são dispendiosas, em termos de investimentos e consumo de energia, mas demonstram que se houver acesso à energia, existe igualmente acesso à água.

Um problema de procura, não de abastecimento

Assim, se a água necessária está disponível, o verdadeiro problema não se coloca a nível de abastecimento, mas sim da procura. De acordo com Kim Jensen, tudo se resume à má gestão da água e a hesitações: “Creio que o verdadeiro problema assenta no facto de reagirmos demasiado tarde. Se estabelecermos prioridades na gestão da água, não vamos estar a debater a escassez de água daqui a 10 anos.

As reservas de petróleo a nível mundial estão a diminuir e irão desaparecer no futuro, mas não imagino uma situação em que não tenhamos acesso a água potável limpa. Dito isto, recomendo vivamente que não nos acomodemos e esperemos que os recursos naturais se esgotem”.

Agir agora

Kim Jensen acredita que é importante poupar os recursos existentes e procurar novas soluções de forma a evitar a escassez de água – os consumidores e políticos têm de alterar as atitudes relativamente ao consumo e à gestão da água. De acordo com este responsável, é uma questão de prioridades e de vontade política para investir e repensar a gestão da água: “Não é fácil, mas é possível”, afirma. “Creio que a maior parte das pessoas a nível mundial poderia ter acesso a toda a água necessária se os governos estivessem dispostos a estabelecer prioridades e a repensar as respectivas soluções de tratamento de águas”.

Kim Jensen afirma ainda que as tecnologias estão disponíveis actualmente: “Na Grundfos, desenvolvemos soluções de bombeamento para estas finalidades específicas. Apenas é necessário que os consumidores e políticos se focalizem realmente no problema e aproveitem as tecnologias disponíveis para o resolver – tanto no interior como no exterior dos edifícios”.

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